Representando o Corecon-PE, Vice-Presidente Poema Souza participa de I Conferência anual do Banco Central do Brasil

No período entre os dias 17 e 19 de maio de 2023, aconteceu na Sede do Banco Central (BCB), em Brasília, a I Conferência Anual do Banco Central do Brasil, que resultou da junção de dois eventos tradicionais do BCB: o Seminário Anual de Metas para a Inflação e o Seminário Anual de Estabilidade Financeira e Economia Bancária. Desta maneira, durante o evento, houve a presença de vários participantes nacionais e internacionais, com destaque para um número elevado de servidores do próprio Banco Central do Brasil e de instituições financeiras brasileiras, com o intuito de fortalecer o debate nas principais áreas da macroeconomia, com ênfase no campo da economia monetária, mercado financeiro, regulação, finanças e sustentabilidade.

A abertura da conferência foi conduzida de forma remota pelo presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, que por motivos de saúde não pode comparecer na forma presencial. Destaca-se que o atual presidente do BCB fez uma síntese dos últimos acontecimentos nos âmbitos nacional e internacional, os quais geraram um cenário de inflação mais elevada no mundo nos últimos anos, como consequência principalmente da pandemia da covid-19, choques de oferta, e da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Nesse sentido, o senhor Campos Neto enfatizou que o Banco Central do Brasil atuou de forma prudente com a elevação antecipada da taxa de juros da economia brasileira, cujo principal objetivo é garantir o controle inflacionário de forma eficaz.

Adicionalmente à visão do presidente do Banco Central do Brasil, a Subdiretora-Geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Senhora Gita Gopinath, palestrou sobre como as economias emergentes estão lidando com a alta da inflação, enfatizando que esses países atuaram de forma mais rápida e agressiva quando comparados com os países desenvolvidos. Portanto, na visão da economista do FMI, o aumento da taxa de juros nos países da América Latina, por exemplo, evitou que houvesse uma saída abrupta de capitais dessas economias e contribuiu fortemente para um maior controle inflacionário. Portanto, ao concluir a sua apresentação, a economista Gita destacou que a prioridade da política monetária é trazer a inflação para dentro dos limites estabelecidos pelas metas das autoridades monetárias. Assim, a economista defende que política fiscal deve dar suporte à política monetária, e o Banco central deve ser independente e com uma boa estrutura de decisões políticas, mantendo como instrumento-chave a prática da transparência nas ações adotadas, segundo o Código de Transparência do Banco Central (CBT - Central Bank Transparency Code) difundido pelo FMI.

É importante destacar que durante os três dias do evento houve discussão de vários temas relevantes para a economia brasileira e para os países emergentes. Na sessão I de macroeconomia e Finanças, por exemplo, teve a apresentação do Stijn Claessens (BIS) sobre o tema de financiamento das famílias e a relação com a política monetária, em que foi demonstrado que para as famílias com um alto nível de endividamento, a política monetária mais rígida resulta em uma maior queda do consumo familiar. Ou seja, para o auto, o efeito da política monetária é não-linear entre as famílias. Um outro tópico abordado na conferência foi a relação entre os riscos climáticos e o sistema financeiro, onde Sabine Mauderer, membro do Conselho executivo do Banco Central da Alemanha (Bundesbank) chamou atenção de como as mudanças climáticas realmente afetam os mercados financeiros e, consequentemente, as implicações desses eventos sobre as políticas adotadas pelos bancos centrais. A economista enfatizou que os eventos climáticos severos estão se tornando cada vez mais frequentes, inclusive no Brasil, e os impactos são sentidos em diversos setores da economia e têm efeitos sobre os preços. De forma complementar, a palestra de Elías Albagli (Banco Central de Chile) evidenciou que as mudanças climáticas não têm sido consideradas prioritárias nas formulações das políticas públicas. E, geralmente, os custos socioeconômicos dessas mudanças do clima são subestimados. Por fim, o economista falou da relevância das autoridades públicas alertarem de forma mais incisiva sobre as mudanças climáticas, suas consequências catastróficas e a necessidade de transição urgente.

Nas demais apresentações foram discutidos tópicos sobre a transmissão da política monetária, inclusão financeira, os efeitos das políticas monetárias no mercado de trabalho, as moedas digitais de Bancos Centrais, os efeitos das expectativas no processo inflacionário, competição bancária, modelos HANK (Heterogeneous Agents New Keynesian), por fim, regulações no sistema financeiro.

A Conferência do BCB pode ser considerada um dos eventos mais importantes na América Latina sobre os principais temas vinculados à economia monetária e financeira. Destaco que, entre os participantes, representei o Conselho Regional de Economia de Pernambuco (CORECON-PE), na função de vice-presidente, devido à relevância desse evento para a economia brasileira. Enfatizo também a relevância dos conselhos de economia enviarem representantes para esse evento, que reúne formuladores de políticas públicas nacionais e profissionais economistas que atuam nos setores público e privado, além de instituições multilaterais. Portanto, uma maior presença dos conselhos de economia nesse nos permite aprimorar os órgãos de classe propondo discussões relevantes para o país, cursos de aperfeiçoamento nas áreas de atuação vinculadas aos temas discutidos e fortalecimento do papel do economista nessas áreas. Por fim, ressalto que a atuação de mulheres economistas ainda é limitada no mercado financeiro e deverá ter uma atenção maior do Corecon-PE e demais conselhos de economia no Brasil.

Relatório elaborado por Poema Souza

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